Neste sexto bloco, vamos continuar nossa análise da quinta época. Faremos um balanço das diferenças estilísticas e semânticas entre as duas versões analisadas nos blocos anteriores, tomando como exemplo o uso da palavra “escravidão”. Trata-se de um caso paradigmático do tipo de inversão operada por Wolf. Como contraponto, vamos ler o relato de viagem feito por Karl von Scherzer durante a expedição Novara, no Rio de Janeiro, em 1857.
1. Dimensões político-sociais da escrita da história literária: o impacto da Revolução Francesa, da Restauração e da Primavera dos Povos no contexto germânico;
2. a noção de ciência e seus propósitos no quadro dos estudos filológicos e do Idealismo Alemão: Herder e Hegel;
3. historiadores da literatura e seus paradigmas em comparação: Ferdinand Denis e Ferdinand Wolf;
4. concepções de Nationalliteratur e de Weltliteratur em contraste;
5. discursos e estratégias de invenção do cânone literário: as metáforas, o recorte e o ponto de vista de Ferdinand Wolf em O Brasil literário;
6. história literária como projeto político-cultural dos impérios brasileiro e austríaco: a disputa pela construção do passado e a crítica à ideologia na escrita da história literária.
O curso propõe uma discussão interdisciplinar sobre a escrita história da literatura e suas motivações ideológicas a partir de Le Brésil littéraire [O Brasil literário] (1863), do romanista vienense Ferdinand Wolf (17961866). Trata-se de um caso exemplar: apesar de ter sido escrito em alemão (Geschichte der brasilianischen Nationalliteratur [História da literatura nacional brasileira]), o livro foi publicado apenas em tradução francesa. As diferenças entre as duas versões, presentes já no título, indicam a tendência da tradução em eliminar as bases filosóficas da narrativa de Wolf, fundadas no Idealismo Alemão. Embora não seja possível conhecer as razões que motivaram as mudanças, a comparação das duas versões revela o projeto político-cultural de Wolf para nacionalização do espírito germânico no mundo. Em contrapartida, os anseios expansionistas presentes em Wolf unem-se à política cultural empreendida por D. Pedro II no Segundo Reinado, que mobilizava a cultura e a ciência como meios para a manutenção da unidade nacional. Lido em conjunto com outras histórias literárias do século XIX, O Brasil literário revela a associação de interesses transnacionais no campo da política, da cultura e da literatura.