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1. Faz sentido falar em América Latina hoje?
Prof. Dr. André Roberto Martins
A proposta fundamental do curso parte de pressuposto colocado por essa questão inicial:
Faz sentido falar em América Latina hoje? Falar em América Latina é, sobretudo, buscar o
ponto de coesão entre as nações que a compõem atualmente, em maior ou menor grau de
identificação. Seria a cultura seu principal ponto de convergência? Ou as questões
ambientais? É preciso problematizar essa discussão a partir de análises multidisciplinares,
buscando entender elementos que vão desde a origem do termo, passando pela questão
dos problemas compartilhados pelos países latino-americanos, e refletindo sobre o próprio
sentido de se falar em um ideal latino-americano. Nessa perspectiva, cabe entender o que
aproxima o Brasil do restante dos países latino-americanos, apesar de suas peculiaridades
históricas e geográficas, e em que medida essa (não) aproximação tem influenciado os
processos políticos e as relações diplomáticas na região. Com isso, desejamos ressaltar a
necessidade de um debate que problematize e discuta um projeto político-regional
latino-americano.
Bibliografia:
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Editora José Olympio: 1936.
MOISÉS, J. A. O futuro do Brasil: A América Latina e o fim da Guerra Fria. São Paulo: Paz e
Terra/PIC/USP, 1992.
MORSE, R. O espelho de próspero: cultura e ideias nas Américas. São Paulo: Cia das
Letras, 1988.
ZEA, Leopoldo. Sentido de la difusión cultural latinoamericana. México, DF:Fondo de
Cultura Económica, 1980.
Filmografia:
A independência inconclusa (2010), de Luis Vera.
Queimada! (1969), de Gilo Pontecorvo.
Gravada em 19/01/2016.
Historicamente, os países latino-americanos são, predominantemente, influenciados pelos moldes sociais, políticos e culturais das grandes potências, sobretudo os Estados Unidos. Não obstante, vemos fenômenos políticos de grande influência na região, como o populismo, as ditaduras e a própria transição democrática, que nos fazem questionar os moldes que têm estruturado as pautas políticas latino-americanas.
Assim, seriam esses processos particulares à América Latina, devido a eventuais características sócio-históricas próprias? Em que medida é legítimo falar em democracia nos países latino-americanos? A democracia neoliberal tem sido o modelo político hegemônico e amplamente defendido pela maioria dos países, sobretudo pelas grandes potências. Contudo, alguns países parecem não se adaptar da mesma forma aos pressupostos do regime chamado democrático, como pode ser visto de forma mais clara em casos como o cubano, venezuelano e mesmo em outros países da América Latina,
que experimentam a democracia “a sua maneira”.
Assim, cabe problematizar a discussão a respeito da democracia e entender em que medida devemos buscá-la de acordo aos moldes estabelecidos ou se não deveríamos pensá-la a partir de um projeto político mais condizente com as características latino-americanas.
As recentes democracias da América Latina foram marcadas por escândalos de
corrupção. Desde os anos 1990, casos de corrupção, como os que ocasionaram
processos de impeachment sofridos pelos presidentes Fernando Collor de Mello (Brasil) e Carlos Andrés Pérez (Venezuela), o esquema de propinas de Salinas no México com a participação de Fujimori do Peru e o financiamento de campanha envolvendo Menem na Argentina foram noticiados mundialmente. Atualmente, como não poderia deixar de ser, o cenário político brasileiro que tem, por um lado, a maior operação contra a corrupção da nossa história, a Lava-Jato e, por outro, o duvidoso processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, sob a argumentação da luta contra a corrupção, mas com um novo governo composto por inúmeros citados, e alguns mesmo investigados, pela Operação Lava-Jato. Estes casos, no entanto, não são excepcionais: o envolvimento de parlamentares, prefeitos, vereadores e autoridades, no geral, são recorrentes no contexto latino-americano. A corrupção é, inevitavelmente, uma das causas de desconfiança política da população e de uma consequente crise de representatividade no atual período democrático da América Latina, levando a um “desencanto” da sociedade perante seus respectivos governos. Além das implicações domésticas, há consequências externas para essa desvirtuação política, uma vez que a imagem não só dos países envolvidos, mas da América Latina em conjunto, é negativamente (re)construída. A corrupção, portanto, tem um significativo poder de influência na dinâmica geopolítica das relações internacionais, podendo ser decisiva, inclusive, na própria polarização do poder mundial.
A América Latina enfrenta muitos problemas de ordem social relacionados à criminalidade e ao narcotráfico. No entanto, a "narcoeconomia" não é um âmbito delituoso socialmente homogêneo, como apresenta a distorcida propaganda da política imperialista. A comercialização de drogas é o segundo ramo de atividade econômica do planeta, sendo superada somente pelo comércio de armas. Segundo a criminóloga venezuelana Rosa del Olmo, “questões econômicas têm sido transformadas em problemas sociais que se expressam em conflitos sobre drogas”. Na verdade, argumenta ela, “o problema da droga é econômico e ideológico”. Os Estados Unidos se empenham de maneira ferrenha no combate ao narcotráfico no continente, porém, é importante analisar suas intrínsecas motivações. A atividade se mostra numericamente bastante lucrativa para o país. Assim, pode-se perceber como a "narcoeconomia" é afetada pelos mesmos ciclos de superprodução que qualquer outro setor e, por isso, o imperialismo apela aos instrumentos clássicos de guerra comercial, buscando baratear a produção local e encarecer a competição latino-americana. É evidente que a militarização com o pretexto de "lutar contra o flagelo da droga" é um aspecto da recolonização comercial e da chantagem financeira sobre a América Latina. Com isso, é notório como a problemática do narcotráfico é muito mais profunda do que aparenta, e é um tema de extrema relevância não só social, mas com importante abrangência nos âmbitos político e econômico para as relações internacionais.
No século XX, as contestações populares na América Latina assumiram um caráter mais politizado, com relativa crítica e autonomia em relação ao Estado, exercendo pressão política para transformações da estrutura social. A partir da década de 1970, surgiu o novo sindicalismo e vários movimentos sociais que desenvolveram ações de resistência contra os sistemas sociais altamente excludentes que existiam no subcontinente, numa realidade de profundas desigualdades sociais. Além disso, tais movimentos coincidiram com o avanço do autoritarismo sobre vários países da América Latina e sucederam os temas típicos dos anos 60: a marginalidade e a dependência.
No entanto, de demandas para a construção de identidades coletivas restritas, emergiram redes de movimentos sociais multi-identitárias, translocais e transnacionais que, em última instância, desempenharam uma função estratégica na resistência contra as políticas neoliberais dos governos latino-americanos. Dessa forma, contribuíram para a emergência de movimentos de resistência antissistêmica na América Latina, o que verifica o papel influente dos movimentos sociais na dinâmica geopolítica do subcontinente.
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